Devastação Ambiental e Riscos à Saúde: O doloroso Legado do Garimpo de Ouro a Agricultores Familiares da Amazônia Mato-Grossense

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.21664/2238-8869.2021v10i2.p66-80

Palabras clave:

História Ambiental, Abordagem Ecossistêmica, Saúde Ambiental, Saúde Rural

Resumen

A reemergência dos garimpos artesanais de ouro na Amazônia brasileira tem gerado uma série de inquietações. Afinal, quem arca com os custos da devastação ambiental e dos riscos à saúde gerados pela atividade? Este estudo objetivou analisar o custo socioambiental de um antigo garimpo de ouro a agricultores familiares da área da Pista do Cabeça, município de Alta Floresta – MT. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, cuja análise se baseia em percepções e memórias de 15 agricultores familiares, coletadas por meio de entrevistas semiestruturadas. O garimpo deixou um rastro de escavações, fragmentos de terras inférteis e margens de rios e igarapés devastadas. O solo e a vida aquática ainda podem estar contaminados com mercúrio inorgânico e metilmercúrio. Os agricultores especulam que estejam convivendo com certas sequelas geradas pela intensa e longínqua exposição ao mercúrio, bem como ao “pó de garimpo” (dióxido de silício), gerado pela detonação de rochas. As restrições de acesso da população local a serviços médicos especializados, bem como a escassez de estudos ecossistêmicos, limitam o conhecimento da relação entre a atual prevalência de doenças crônicas e os métodos de exploração de ouro, usados na região.

Citas

Atanaka-Santos M, Czeresnia D, Souza-Santos R, Oliveira RM 2006. Comportamento epidemiológico da malária no Estado de Mato Grosso, 1980-2003. Rev Soc Bras Med Trop. 39(2):187–92.
Barbieri AF, Sawyer DO 2007. Heterogeneity of malaria prevalence in alluvial gold mining areas in Northern Mato Grosso State, Brazil. Cad. de Saúde Pública. 23(12):2878–86.
Bernasconi P, Adab R, Micol L 2008. Diagnóstico ambiental do município de Alta Floresta - MT. ICV, Alta Floresta, 9 pp.
Bezerra O, Veríssimo A, Uhl C 1998. Impactos da garimpagem de ouro na Amazônia Oriental. Belém: Imazon, 29 pp.
Bjørklund G, Dadar M, Mutter J, Aaseth J 2017. The toxicology of mercury: current research and emerging trends. Environ. Res. 159:545–54.
Boamidia 2020. Literatura – Reverência aos 44 anos de Alta Floresta. May 19. disponível em https://www.boamidia.com.br/literatura-reverencia-aos-44-anos-de-alta-floresta/.
Cordeiro RC, Turcq B, Ribeiro MG, Lacerda LD, Capitâneo J, Oliveira da Silva A, Sifeddine A, Turcq PM 2002. Forest fire indicators and mercury deposition in an intense land use change region in the Brazilian Amazon (Alta Floresta, MT). Sci. Total Environ. 293(1–3):247–56.
CPT - Comissão Pastoral da Terra, Regional Mato Grosso 1979. Dossiê Imprensa e documentos 1979/2. CPT, Cuiabá, 98 pp.
Das R, Wang X, Khezri B, Webster RD, Sikdar PK, Datta S 2016. Mercury isotopes of atmospheric particle bound mercury for source apportionment study in urban Kolkata, India. Elem Sci Anth. 4:000098.
de Souza ES, Texeira RA, da Costa HSC, Oliveira FJ, Melo LCA, do Carmo Freitas Faial K, Fernandes AR2017. Assessment of risk to human health from simultaneous exposure to multiple contaminants in an artisanal gold mine in Serra Pelada, Pará, Brazil. Sci. Total Environ. 576:683–95.
Esdaile LJ, Chalker JM 2018. The mercury problem in artisanal and small-scale gold mining. Chem. Eur. J. 24(27):6905–16.
Farias RA, Hacon S, Campos RC, Argento R 2005. Mercury contamination in farmed fish setup on former garimpo mining areas in the Northern Mato Grosso State, Amazonian region, Brazil. Sci. Total Environ. 348(1–3):128–34.
Farid LH, Machado JEB, Gonzaga MP, Pereira Filho SR, Campos AEF, Silva GB, Tobar CR, Câmara VM, Hacon S, Lima, D. Silva V, Pedroso LRM, Silva EC, Menezes LA 1992. Preliminary diagnosis of the environmental impacts caused by gold prospecting in Alta Floresta/MT: A Case Study. Rio de Janeiro, CETEM, 190 pp.
G1 2019. Garimpo ilegal é descoberto no meio de floresta em MT e 4 pessoas são presas por extração de ouro. Disponível em https://g1.globo.com.
Grandin G 2010. Fordlândia. Ascensão e queda da cidade esquecida de Henry Ford na selva. Rio de Janeiro, Rocco, 397 pp.
Guanziroli C, Buainain A, Sabbato A 2013. Family farming in Brazil: evolution between the 1996 and 2006 agricultural censuses. J Peasant Stud. 40(5):817–43.
Gyamfi O, Sorenson PB, Darko G, Ansah E, Bak JL 2020. Human health risk assessment of exposure to indoor mercury vapour in a Ghanaian artisanal small-scale gold mining community. Chemosphere. 241:125014.
Ha E, Basu N, Bose-O’Reilly S, Dórea JG, McSorley E, Sakamoto Chan HM 2017. Current progress on understanding the impact of mercury on human health. Environ Res. 152:419–33.
Hacon S 1997. Avaliação do risco potencial para a saúde humana da exposição ao mercúrio na área urbana de Alta Floresta, MT-Bacia Amazônica-Brasil. Tese de Doutorado. Universidade Federal Fluminense em Geoquímica, Niterói, 182 pp.
Hacon S 2000. Exposure to mercury in pregnant women from Alta Floresta—Amazon Basin, Brazil. Environ. Res. 84(3):204–10.
Hacon S, Farias R, Argento R, Campos RC, Rossi AP, Wasserman J 2003. The impact of long-term mercury contamination on the new human exposure scenarios in the North Region of Mato Grosso, Amazon basin. J. Phys. IV France. 107:357–60.
Hacon S, Farias R, Campos RC, Wasserman JC 2006. Evaluación de riesgo una herramienta para el proceso de gerenciamiento socioambiental: estudio de caso región Norte de Mato Grosso. In CR Silva, BR Figueiredo, EM De Capitani, FG Cunha. Geologia Médica No Brasil: Efeitos dos materiais e fatores geológicos na saúde humana e meio ambiente, Rio de Janeiro, Serviço Geológico do Brasil, 48–54 pp.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 2010. Censo demográfico. Sidra. Disponível em https://sidra.ibge.gov.br/tabela/1378.
INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais 2019. Desflorestamento nos Municípios da Amazônia Legal. Projeto PRODES - Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite. Disponível em http://www.dpi.inpe.br/prodesdigital/prodesmunicipal.php.
Kassouf AL 2005. Acesso aos serviços de saúde nas áreas urbana e rural do Brasil. Rev. Econ. Sociol. Rural. 43(1):29–44.
Lacerda LD, de Souza M, Ribeiro MG 2004. The effects of land use change on mercury distribution in soils of Alta Floresta, Southern Amazon. Environ. Pollut. 129(2):247–55.
Matos LS de, Silva JOS, Kasper D, Carvalho LN 2018. Assessment of mercury contamination in Brycon falcatus (Characiformes: Bryconidae) and human health risk by consumption of this fish from the Teles Pires River, Southern Amazonia. Neotrop. ichthyol. 16(1): e160106.
Ministério da Saúde 2017. DATASUS. Informações de Saúde. http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sim.
Miranda J 1997. A produção do ouro no Estado de Mato Grosso. Campinas, Unicamp, 108 pp.
Monteiro M, Coelho M, Cota R, Barbosa E 2010. Ouro, empresas e garimpeiros na Amazônia: o caso emblemático de Serra Pelada. Rev. bras. Ci. Soc. 7(13):131–58.
Moody KH, Hasan KM, Aljic S, Blakeman VM, Hicks LP, Loving D, Moore M, Hammett BS, Silva-González M, Seney CS, Kiefer AM 2020. Mercury emissions from Peruvian gold shops: potential ramifications for Minamata compliance in artisanal and small-scale gold mining communities. Environ. Res. 182:109042.
PNBonline 2020. Garimpo ilegal entre as regiões de Carlinda e Alta Floresta é multado em R$400 mil. Disponível em https://matogrossomais.com.br.
Revista Alta Floresta 26 anos 2002. Cabeça, ex-rei do garimpo, ano 26.
Rodrigues J 2016. Projeto Olhos d’água da Amazônia - Fase II. Alta Floresta: Paço Municipal, 148 pp.
Schaefer JR 1985. As migrações rurais e implicações pastorais: um estudo das migrações campo-campo do sul do país em direção ao norte de Mato Grosso. São Paulo, Edições Loyola, 199 pp.
Siegel S, Veiga MM 2010. The myth of alternative livelihoods: artisanal mining, gold and poverty. IJEP. 41(3/4):272.
Silva F, Rauber M 2018. Memórias, práticas e degradações garimpeiras em Alta Floresta-MT. REFAF. 7(2):28–48.
Tafner Junior A, Silva F 2016. Alta Floresta: uma colônia de Ariosto da Riva em Mato Grosso. Novos Cad. NAEA. 19(3):251–58.
Tenkam HM, Doungmo Goufo EF, Tsanou B, Hassan AS, Hussaini N, Terefe YA 2020. Classical and fractional analysis of the effects of Silicosis in a Mining Community. Alex. Eng. J. 59(4):2683–94
Vega C, Orellana J, Oliveira M, Hacon S, Basta P 2018. Human mercury exposure in yanomami indigenous villages from the Brazilian Amazon. IJERPH. 15(6):1051.
Veiga M, Silva A, Hinton J 2002. O garimpo de ouro na Amazônia: aspectos tecnológicos, ambientais e sociais. In R Trindade, O Barbosa Filho, Extração de Ouro: Princípios, Tecnologia e Meio Ambiente, eds. Rio de Janeiro, CETEM/MCT, 267–95 pp.
Veiga MM, Hinton JJ 2002. Abandoned artisanal gold mines in the Brazilian Amazon: A legacy of mercury pollution. Natural Resources Forum. 26(1):15–26.
Thompson, Steven K. 2002. Sampling. 2nd ed. New York: Wiley.
Wanderley L 2015. Geografia do ouro na Amazônia brasileira: uma análise a partir da porção meridional. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 302 pp.
Wanderley MN 2003. Agricultura familiar e campesinato: rupturas e continuidade. Estudos Sociedade e Agricultura. 21:42–61
Wasserman JC, Campos RC, Hacon S de S, Farias RA, Caires SM 2007. Mercury in soils and sediments from gold mining liabilities in Southern Amazonia. Quím. Nova. 30(4):768-773.
Weihs M 2015. Conexão (in)visível: Degradação ambiental e saúde na fronteira agrícola amazônica. Tese de Doutorado. Universidade de Brasília, Brasília, 198 pp.
Weihs M, Lopes FJA, Cardoso SMC, Camargo ADC, Silva FO, Ruedell CM 2020. Implicações do modelo de ocupação da fronteira agrícola à agricultura familiar em Terra Nova do Norte e Nova Guarita, Amazônia mato-grossense. Desenvolv. Meio Ambiente. 54:1.
Weihs M, Sayago D, Tourrand J-F 2017 Dinâmica da fronteira agrícola do Mato Grosso e implicações para a saúde. Estud. Av. 31(89):323–38.
Weihs ML, Sayago DAV 2015. Mudanças ambientais e saúde pública: observações sobre a trajetória de uma fronteira agrícola amazônica. Front., J. Soc., Technol. 4(3):209.

Publicado

2021-08-31

Cómo citar

PEREIRA DA ROSA, Patricia; WEIHS, Marla Leci. Devastação Ambiental e Riscos à Saúde: O doloroso Legado do Garimpo de Ouro a Agricultores Familiares da Amazônia Mato-Grossense. Fronteira: Journal of Social, Technological and Environmental Science, [S. l.], v. 10, n. 2, p. 66–80, 2021. DOI: 10.21664/2238-8869.2021v10i2.p66-80. Disponível em: https://periodicos.unievangelica.edu.br/index.php/fronteiras/article/view/5608. Acesso em: 24 nov. 2024.

Número

Sección

Dossiê - Humanidades Ambientais