Epidemiologia do trauma pediátrico brasileiro
Palavras-chave:
Trauma; Epidemiologia; Urgência Pediátrica.Resumo
O trauma é uma das principais causas de morte na população com idade até 19 anos. No Brasil, 95% dos indivíduos que são internados com essa faixa etária é devido a algum trauma. Estudos evidenciam que a maioria dos eventos ocorrem em função da negligência de cuidados e o ambiente doméstico figura um dos locais mais frequentes em que esses acidentes ocorrem. Relatar a frequência dos traumas pediátricos no Brasil (população de 0 a 19 anos), as medidas preventivas para evitá-los de acordo com a faixa etária acometida e o tipo de trauma mais prevalente em cada uma delas. Tratou-se de um estudo transversal, descritivo, de caráter retrospectivo e quantitativo, baseado na consulta de dados secundários fornecidos pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde – DATASUS-Tabnet. Delimitou-se a amostra ao ano de 2018, à óbitos por ocorrência, às macrorregiões do Brasil, às faixas etárias de 0 a 19 anos (>1 ano, 1 a 4, 5 a 9, 10 a 14 e 15 a 19 anos), à CID-10 W00-X59 (outras causas externas de traumatismos acidentais) e, especificamente, aos traumas ocorridos em domicílio. Com base nesses dados, foi calculada a prevalência de traumas em domicílio para cada grupo etário e intervalo de confiança de 95% (IC95%). O trauma contuso fechado foi relatado como o de maior prevalência nessa população, porém ao se investigar as causas de mortalidade de acordo com a faixa etária, observou-se de que entre 1 a 4 anos a principal causa era o afogamento, entre 5 a 14 anos a prevalência de acidentes com veículos automotores e entre 15 a 19 anos predominou o disparo por arma de fogo. Observando que a maior prevalência ocorreu no sexo masculino. A literatura corrobora, portanto, com a importância do ambiente domiciliar como o local onde grande parte desses acidentes ocorrem.
A prevalência mais alta de óbitos por traumas acidentais em ambiente doméstico foi observada na região Norte e Nordeste para a faixa etária <1ano, sendo equivalente a 39%-65% e 32,1%-57,4%, respectivamente. As menores prevalências, em contrapartida, foram verificadas na região Sul e Sudeste para a faixa etária de 15 a 19 anos (11%-22% e 15,4%-33,0%, respectivamente). As regiões Norte e Nordeste apresentaram as maiores prevalências para quase todas as faixas etárias avaliadas, com exceção de duas observações onde a região Sul (1-4 anos, 18%-37%) e Sudeste (10-14 anos, 5,8%-15,8%) sobrepujaram as mesmas. A elevada prevalência de óbitos por causas externas de traumatismos acidentais em ambiente doméstico permitiu concluir que os programas e campanhas de prevenção ao trauma pediátrico têm falhado e há fortes indícios do componente negligência familiar em sua ocorrência. As crianças são ativas e criativas, assim muitas vezes não são capazes de avaliar os riscos de suas ações, cabendo puramente aos adultos se antecederem e precaverem para que o ambiente doméstico seja seguro.