Ecologias Espirituais: Relação entre Espiritualidade e Conservação da Sociobiodiversidade

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21664/2238-8869.2022v11i3.p98-117

Palavras-chave:

animismo, sítios naturais sagrados

Resumo

Cada vez mais o Antropoceno está em voga. O que isso quer dizer em termos políticos e socioambientais? A dicotomia simbólica e material entre sociedade-natureza exerce um papel fundamental na crise ecológica que enfrentamos. O momento nos convida a um olhar mais integrado entre natureza e cultura e faz-se necessário o resgate de narrativas em que o ser humano se perceba natureza. Perspectivas espirituais da natureza podem contribuir para o enaltecimento de narrativas éticas em que a natureza seja concebida como sagrada e, por isso, protegida. Na academia, as humanidades ambientais surgem nos últimos anos como um encontro de diferentes rotas epistemológicas que valorizam uma visão mais integrada de humanos e não humanos. Nesse sentido, o presente artigo tem como objetivo apresentar o debate da ecologia espiritual no contexto das humanidades ambientais no antropoceno como uma das possíveis formas de superar a dicotomia moderna ser humano x natureza. Resgatamos pontos principais sobre a ecologia espiritual, enaltecemos o animismo como posicionamento capaz de reconfigurar nosso olhar para a natureza, criticamos o modelo atual de conservação e trazemos a proposta dos Sítios Naturais Sagrados como alternativa. Por fim, trazemos a paisagem como unidade de análise que nos permite observar relações espirituais naturezas-culturas conectando dimensões do aqui e do além.

Referências

Ab'Saber, A. N. 2003. Os domínios de Natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. 1a ed. São Paulo: Ateliê Editorial.
Azevedo, Vitor de. 2015. “Ewé Igbo: Árvores Sagradas Do Candomblé No Contexto Socioambiental.” Dissertação de Mestrado. Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Becker, Egon. 2012. Social-ecological systems as epistemic objects. En Human-nature interactions in the Anthropocene: Potentials of social-ecological systems analysis, 37-59. Routledge
Berkes, F 2001. Religious traditions and biodiversity. Encyclopedia of Biodiversity, v. 5, p. 109- 120
Besse, Jean-Marc. 2011. Geografia e existência a partir da obra de Eric Dardel. En O homem e a Terra. São Paulo: Perspectiva.
Bonnemaison, J. 2002. Viagem em torno do território. En: Corrêa, Roberto Lobato e Rosendhal, Zeny. (orgs). Geografia cultural: um século (3). Rio de Janeiro: Editora Uerj.
Brasil, Lucas Santa Cruz de Assis; Amadeo, Thomaz de la Rocque; Solórzano, Alexandro. 2020. O Ser humano não é um vírus: compreendendo o nosso papel no planeta terra para além da sua destruição. Revista Ensaios de Geografia, Niterói, vol. 5, nº 9, p. 112-117
Capra, F. 2006. O Ponto de Mutação. trad. Álvaro Cabral; 26ª reimpressão; São Paulo: editora Cultrix
Cosgrove, Denis. 2012. A geografia está em toda parte: cultura e simbolismo nas paisagens humanas.En Geografia cultural: uma antologia. Rio de Janeiro: EdUERJ.
Cronon, William. 1996. The trouble with wilderness: or, getting back to the wrong nature. Environmental history, v. 1, n. 1, p. 7-28..
Crumley, C. L. 1993. Historical Ecology: a multidimensional ecological orientation. In.: Crumley, C. L. (Eds). En. Historical Ecology: cultural knowledge and changing landscapes. Santa Fé: School of American Research Press.
Davies, Janae et al. 2019. Anthropocene, capitalocene, plantationocene?: A manifesto for ecological justice in an age of global crises. Geography Compass, v. 13, n. 5: 1- 15
Dardel, Eric. 2015. O Homem e a Terra: Natureza da realidade geográfica. São Paulo: Perspectiva.
Diegues, Antonio Carlos. 1996. O mito moderno da natureza intocada. São Paulo: HUCITEC
Eliade, Mircea. 2021. O Sagrado e o profano: a essência das religiões. São Paulo: Martins Fontes.
Erickson, C. 2006. The domesticated landscapes of the Bolivian Amazon. In: Balée, W; Erickson, C. (Orgs.). Time and complexity in historical ecology: studies in the Neotropical lowlands. New York: Columbia University Press, pp.235-278
Fernandes-pinto, Erika. 2017. Sítios Naturais Sagrados do Brasil: inspirações para o reencantamento das áreas protegidas. Tese (Doutorado em Psicossociologia e Ecologia Social – UFRJ, 2017. Disponível em: https://goo.gl/ZNCE11 '
Fernandes-Pinto, Erika e Irving, Marta De Azevedo. 2018. Entre Santos, Encantados e Orixás: uma jornada pela diversidade dos sítios naturais sagrados no Brasil. Desenvolvimento e Meio Ambiente, v. 46, p. 37–60.
Fernandez, Vicente Leal E., Gabriel Paes da Silva Sales, Ana Brasil Machado, and Alexandro Solórzano. 2021. Geografia Histórica Do Caminho Do Ouro Na Serra Da Estrela (RJ), Sudeste Do Brasil: Barreira, Fronteira e Permeabilidade. Historia Ambiental Latinoamericana y Caribeña (HALAC) Revista de La Solcha. Vol. 11. https://doi.org/10.32991/2237-2717.2021v11i1.p51-81.
Guattari, Félix. 1990. As três ecologias. - São Paulo: Papirus Editora
Gil Filho, S. F.; GIL, A. H. C. F. Geografia da Religião: Estudos da Paisagem Religiosa. En: VIII Encontro Nacional Da ANPEGE – ENANPEGE, CURITIBA: ANPEGE, 2009
Haraway, Donna. 2016. Antropoceno, Capitaloceno, Plantationoceno, Chthuluceno: fazendo parentes. ClimaCom Cultura Científica, v. 3, n. 5: 139-146
Harvey, Graham. 2014. En. HARVEY, Graham (ED). The handbook of contemporary animism. 1-14. Routledge.
Harvey, Graham. 2006. Animals, animists, and academics. Zygon®, v. 41, n. 1, p. 9-20.
Hecht, Susanna. 2006. Domestication, Domesticated Landscapes, and tropical natures. In. HEISE, U. Christiensen M. (Eds.) Handbook of environmental humanities, Routledge, NY.
Heise, U.K., 2017. Introduction: planet, species, justice—and the stories we tell about them. En Ursula K. Heise, Jon Christensenand Michelle Niemann (Eds.) The Routledge companion to the environmental humanities (pp. 17-26). Routledge.
Hogan, Linda. 2014 . We call it tradition. En Graham Harvey (Ed.), The handbook of contemporary animism, 17-26. Routledge.
Krenak, Ailton. 2019. Ideias para adiar o fim do mundo. Rio de Janeiro: Editora Companhia das Letras.
Latour, B. 2019. Jamais fomos modernos. São Paulo: Editora 34.
McNeil, J. R. 2010. The state of the field of environmental history. Annual Review of Environment and Resources, v. 35, p. 345-374.
Morais, Marcelo Alonso. 2015. Umbanda, Oxóssi e as florestas. Ideia Jurídica. Rio de Janeiro
Moreira, Ruy. 2006. Para onde vai o pensamento geográfico? Por uma epistemologia Crítica. São Paulo: Editora Contexto
Oliveira, R. R. 2007. Mata Atlântica, paleoterritórios e história ambiental. Ambiente & Sociedade, v. 10, n. 2, p. 11-23.
Oliveira, R.R. and Solórzano, A., 2014. Três hipóteses ligadas à dimensão humana da biodiversidade da Mata Atlântica. Fronteiras: Journal of Social, Technological and Environmental Science, 3(2), pp.80-95.
Oppermann, S. and Iovino, S., 2016. Introduction: the environmental humanities and the challenges of the Anthropocene. In: Oppermann, S., & Iovino, S. (Eds.). Environmental humanities: Voices from the anthropocene. Rowman & Littlefield
Pontes, M. R. 1998. A árvore: um arquétipo da verticalidade (contributo para o estudo simbólico da vegetação). Revista da Faculdade de Letras, Línguas e Literaturas, v. 15, p. 197-219
Rosendahl, Zeny. 2009. Hierópolis: o sagrado e o urbano. 2ed. Rio de Janeiro: EdUERJ.
Rua, João; Oliveira, Rogério Ribeiro de; Ferreira, Alvaro. 2007. Paisagem, Espaço e Sustentabilidade: uma perspectiva multidimensional da geografia. p. 7-32. Rio de Janeiro: Ed. PUC
Santos, Milton. 2017. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo:Edusp
Sauer, Carl O. 1952. Agricultural origins and dispersals. The American Geographical Society.
Sauer, Carl. 2008. The morphology of landscape. En: The cultural geography reader. Routledge, . p. 108-116.
Sauer, Carl O. 1941. Foreword to historical geography. Annals of the Association of American Geographers, v. 31, n. 1, p. 1-24.
Sheldrake, Rupert. Science and Spiritual Practices: Reconnecting through direct experience. UK:Hachette.
Solórzano, A., Guedes-Bruni, R.R. and Oliveira, R.R.D., 2012. Composição florística e estrutura de um trecho de floresta ombrófila densa atlântica com uso pretérito de produção de banana, no parque estadual da Pedra Branca, Rio de Janeiro, RJ. Revista Árvore, 36, pp.451-462.
Sponsel, Leslie Elmer. 2012. Spiritual ecology: a quiet revolution. Santa Monica: ABC-CLIO.
Stengers, Isabelle. 2017. Reativar o animismo. Cadernos de leitura, v. 62, p. 1-15.
Stump, R. W. 2008. The Geography of Religion – Faith, Place, and Space. Lanham – Maryand: Rowman & Littlefield Publishers Inc
Svorc, Rita de Cássia de Paula. 2007. Figueiras centenárias, história ambiental e estrutura da Mata Atlântica no município de Angra dos Reis, RJ. Dissertação de mestrado. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Toledo, Víctor M.; Barrera-Bassols, Narciso. 2008. La memoria biocultural: la importancia ecológica de las sabidurías tradicionales. Icaria editorial
Tsing, Anna. 2019. Viver nas ruínas: paisagens multiespécies no Antropoceno. Brasília: IEB Mil Folhas.
Tucker, Mary Evelyn e Grim, John. 2017. The movement of religion and ecology. En Jenkins, Willis; Tucker, M. E; Grim, J.(Org.). Routledge handbook of religion and ecology. [S.l.]: Routledge, 2016. p. 3–12. 281>.
Verschuuren, Bas et al. 2010. Introduction: Sacred natural sites: the foundations of conservation. En Sacred natural sites. p. 1-13. Taylor and Francis.
White Jr., Lynn. 1967. The historical roots of our ecologic crisis. Science, v. 155, n. 3767, p. 1203-1207.
Worster, D. 1991. Para fazer história ambiental. Estudos Históricos, v. 4, n. 8, p. 198-215.

Downloads

Publicado

2022-09-23

Como Citar

AMADEO, Thomaz de La Rocque; SOLÓRZANO, Alexandro. Ecologias Espirituais: Relação entre Espiritualidade e Conservação da Sociobiodiversidade. Fronteira: Journal of Social, Technological and Environmental Science, [S. l.], v. 11, n. 3, p. 98–117, 2022. DOI: 10.21664/2238-8869.2022v11i3.p98-117. Disponível em: https://periodicos.unievangelica.edu.br/index.php/fronteiras/article/view/6521. Acesso em: 25 abr. 2024.

Edição

Seção

Edição Especial - 2022